terça-feira, 16 de abril de 2024

As palavras do dia (55)



A diligência da justiça à portuguesa, no seu melhor! 
Mais outra proeza a curto prazo?!...

Bibliofilia 212

 

Estes Elementos da Poetica (1765), colhidos nos clássicos gregos e latinos por Pedro José da Fonseca (1737-1816), constituem a primeira edição desta obra pedagógica, que o professor régio de retórica fez imprimir na Oficina de Miguel Manescal da Costa, em Lisboa. Seguiram-se pelo menos mais duas edições Rolandianas, nos anos de 1781 e 1804. O seu magistério desdobra-se ainda pela publicação de um dicionário de língua portuguesa (1793), um tratado de versificação e por um Lexicon Latini que  contou sete edições.
Encadernada e em muito bom estado, a obra foi adquirida na Livraria Antiga do Carmo, ao alfarrabista José Ferreira, em 1988, por Esc. 1.500$00. Recentemente, a In-Libris tinha um exemplar à venda desta edição original pelo valor de 85 euros.

sábado, 13 de abril de 2024

O desabrochar da Amaryllis



Não veio ainda a tempo do seu encontro inteiro com a Primavera, mas a nossa Amaryllis, da varanda a leste, já se promete em duas frentes, pelo menos, como é costume em Abril, com todo o seu esplendor cromático.

sexta-feira, 12 de abril de 2024

Apontamento 164: Engano de alma + Hipocrisia

Quando li, há pouco tempo, que as embalagens dos medicamentos iriam deixar de ter a indicação do preço, achei um péssimo sinal. O cliente ficava sem nenhuma base para a comparação dos preços praticados pelas farmácias, perante a evidência que essa manipulação do preço existe.

Bem basta a recordação, de há décadas, de uma reunião conspirativa dos cabeças da Associação Nacional das Farmácias, com nomes sonantes, na área de partida do aeroporto de Lisboa, para não acreditar na inocência da medida.

Ora, então, hoje tive a confirmação. Encontrei um medicamento com o preço tapado, com fita, que felizmente consegui retirar sem estragar o registo original. Ficam as imagens entre o antes e depois da medida:



Por outro lado, desde a semana passada, por razão do novo governo, passei a ter umas indicações completamente hipócritas. Primeira medida de compaixão ?

 

No entanto, completamente hipócrita como se pode observar pelo confronto dos valores pagos !

Um aviso à navegação pelo quotidiano enviesado que nos espera, sem dúvida ! Para já fica o alerta !

Post de HMJ

Últimas aquisições (51)



A política de aquisições, cá por casa e nestes últimos meses, tem sofrido uma desacelaração saudável, felizmente, até porque o espaço para colocação de novos livros é já muito exíguo e nem sempre o mais apropriado. As novas leituras têm sido feitas dos volumes em reserva, que ainda são bastantes.
Mas há obras a que não se pode faltar. Em Novembro do ano que passou, centenário do nascimento de Jorge de Sena (1919-1978), a Universidade do Minho organizou o XXI Colóquio de Outono dedicado ao escritor português, tendo convidado vários docentes universitários nacionais e brasileiros para participar.
Algumas das colaborações vieram a integrar este livro Sena Hoje (Edições Colibri, 2023). Destaque para o estudo de abertura da obra, da autoria do catedrático Vítor Aguiar e Silva (1939-2022), no que terá sido, provavelmente, o seu último trabalho de investigação e ensaio - "Jorge de Sena e o conhecimento científico do texto literário".

quarta-feira, 10 de abril de 2024

Pinacoteca Pessoal 202



Poeta e pintora, a norte-americana Kay Sage (1898-1963), no início dos anos vinte viria a fixar-se, com a sua mãe, em Itália; e, mais tarde (1937), na França onde viria a fazer a sua aprendizagem profissional e a casar com um aristocrata italiano, em primeiras núpcias.




Quase toda a sua obra se ressente da ausência da figura humana e os seus quadros marcados pelo surrealismo e pelos grandes espaços de vazio ou arquitectura foram influenciados por Giorgio de Chirico e Yves Tanguy (1900-1955), pintor com quem viria a casar, em segundas núpcias, no ano de 1940, nos Estados Unidos.



terça-feira, 9 de abril de 2024

Apontamento 163: Repensar a cidade

 


Ora, ontem, após um período de recuperação e melhoria na respiração, pensava retomar as minhas saídas, no Chiado e Rossio, etc.

Aproximando-me, de carro, do nosso poiso habitual, olhei em volta e a um centro de cidade transformado em “Disneylândia” e quejando, gentinha, sem rumo, sem eira nem beira, a circular onde eu pensava passar, concluí, mais uma vez, que a vontade de sair acabara naquele momento.

Concluí que a miséria física, cultural, mental e cívica, com que me deparara, anulou todo o meu desejo de passear pelas ruas que, em determinada altura no passado, tanto contribuíram para me enriquecer.

Nem se fala do ruído ensurdecedor, que os turistas julgam ser música e aplaudem, nem do atropelo ao código da estrada pelos TUC TUC, estacionados à balda junto de S. Pedro de Alcântara, ou dos autocarros de turismo que param onde querem, causando longas filas de trânsito pela paragem prolongada à espera de bimbos.

Post de HMJ

Impromptu 74

segunda-feira, 8 de abril de 2024

Osmose 135


Há palavras que nos aproximam das origens ou nos abeiram do essencial, ainda que, a princípio, mal demos por isso, entretidos que estamos à tona do supérfluo. Como há também rostos, às vezes pelas ruas, que nos trazem, por semelhança extrema, boas memórias e presenças impossíveis, por desparecidas.
A imaginação latente é quase sempre agressiva para com a realidade.
E a vida, muitas vezes, parece uma fábula sonhada.
Preciso é pensá-la...

Do que fui lendo por aí... 63

 

Nem sempre os números coincidem entre os diversos relatos históricos, mas é sempre importante termos uma ideia do tamanho e proporção das iniciativas. Citando em abstracto Gomes Eanes de Azurara (1410-1474), J. T. Montalvão Machado refere a envergadura da armada para conquista de Ceuta (Agosto de 1415), na sua obra Dom Afonso, primeiro duque de Bragança (1964), a páginas 152, e nestes termos:

"Espectáculo inédito para os lisboetas, devia ser a partida de aquela numerosa e vistosa armada, que contava entre galés, naus,  fustas e pequenas embarcações, nada menos de 242 unidades, segundo dizem alguns historiadores. Azurara não se pronuncia sobre o número de barcos, nem sobre os efectivos que os ocupavam. Já se disse que embarcaram 50.000 homens, mas alguns autores supõem que não deviam ser mais de 20.000 os expedicionários."

sábado, 6 de abril de 2024

Para que conste

 

Aqui se regista a aparição das 3 primeiras andorinhas que vi este ano, pela manhã de 5/4/2024, no caminho para  a Trafaria, e hoje mais 6 na região outrabandista, em bando primaveril.

Guy Ropartz (1864-1955)

sexta-feira, 5 de abril de 2024

Recomendado: cem

 

O livro acabou de sair, editado em Coimbra - Os Majores de Maio e outros contos de Abril. Como o subtítulo indica são: Ficções de três gerações. Ou não fosse a Família Monteiro, capitaneada pelo Augusto José, meu bom amigo, toda ela criativa, q, b. Filhos e netas ensaiaram a sua prosa sobre o tema candente e merecido do 25 de Abril. E com saudável bom humor.
Fica recomendado o livro!

quinta-feira, 4 de abril de 2024

Curiosidades 104



Não será caso único nas letras francesas, pois também Jean Cocteau produziu desenhos de traço elegante, alguns dos quais ilustraram o Até Amanhã de Eugénio de Andrade, mas os trabalhos pictóricos de Paul Valéry (1871-1945) serão porventura mais escassos e menos conhecidos do grande público.
Valerá a pena, por isso, dar notícia que a Livraria Laurent Coulet (Paris), no seu catálogo 66, incluía uma aguarela do poeta e pensador francês (imagem acima), em jeito de auto-retrato de costas, pelo preço de 750 euros.

(Agradecimentos a H. N.)

quarta-feira, 3 de abril de 2024

Citações CDLXXXVII

 

Não se pode pedir ao artista mais do que aquilo que ele pode dar, nem ao crítico mais do que ele pode ver.

Georges Braque (1882-1963), in Le Jour et la Nuit (1952).

terça-feira, 2 de abril de 2024

Da construção de um policial

 
Em 1931, Georges Simenon (1903-1989), em artigo para J. K. Raymond-Millet, que veio a ser publicado em Le Courrier cinématographique de 31 de Junho, descreve de forma sucinta e exacta o uso do seu tempo, centralizado na elaboração dos seus romances policiais. O modo exemplar e pitoresco do texto justifica, para registo do Arpose, que o traduza, com base no livro de Pierre Assouline, Simenon (pgs. 228/9). Assim:




"A minha existência está segmentada em períodos de quinze dias. Em cada um destes períodos, um romance é inteiramente composto. No primeiro dia, eu passeio, sozinho e ao acaso. Corro, sento-me ou ando. Observo quem passa. Dou espaço às minhas personagens. Apresento-as umas às outras. Vejo. Quando chego a casa, já tenho o «ponto de partida» onde se desenrolará a acção e a sua «atmosfera». Não me é preciso mais nada. E nem penso mais nisso. Deito-me. Adormeço. Sonho. As personagens crescem por dentro de mim e sem o meu concurso. Em breve já nem sequer me pertencem: têm a sua vida própria. No dia seguinte e dias posteriores, eu não tenho mais nada senão contar-lhes a história. Já lhe tinha dito que dactilografo eu próprio as minhas páginas directamente sem passar pela escrita à mão? Poucos retoques ou modificações. Os meus livos saem ao primeiro jacto.
Escrevo sempre sem um plano; deixo a minha gente agir e a história evoluir seguindo a lógica das coisas. Os meus romances têm geralmente doze capítulos. Começo um capítulo cada manhã, não mais. Isto não me ocupa mais do que hora e meia; mas em seguida fico vazio para o resto do dia. Bom! doze capítulos, portanto doze dias, e isto faz com o dia de preparação, treze dias. No décimo quarto dia, eu releio o meu alfarrábio. Corrijo os erros de distracção, a pontuação, talvez uma dezena de palavras em todo o texto. E levo a obra ao meu editor. No décimo quinto dia, recebo os meus amigos, respondo às cartas que recebi entretanto durante essa quinzena, e dou entrevistas. E tudo isto recomeça exactamente da mesma forma, durante a quinzena que se segue."

segunda-feira, 1 de abril de 2024

Revivalismo Ligeiro CCCXXVII


Além da canção Penina (1968) que resultou da passagem de The Beatles (Paul McCartney) pelo Algarve, ficou também este Ciao, Porto, muito obrigado (1960), da estadia e exibições de Marino Marini (1901-1980) e do seu conjunto pela Invicta. Recordo que, apesar da pobreza ou simplicidade da melodia e letra, esta música, nos anos 60, era até muito tocada em bailes de província, pelo menos, e entre os adolescentes da época.

Inesperadamente


Nada faria supor que, numa espécie de golpe de mágica, Pedro Passos Coelho (1964) se tornasse reitor da Universidade Católica, derrubando a conceituada senhora reitora Isabel Capeloa Gil, com o apoio soez de Miguel Relvas e do monárquico Sousa Lara. Há também quem diga que contou com o voto encapotado do fadista e político Nuno da Câmara Pereira. Bem como com a benção apostólica de D. Américo Aguiar.

Adagiário CCCLXIV



1. Se vives na aldeia, ela é a capital. 

2. Cuidado com uma mulher bonita: é o pimento vermelho.

3. O grito de mil pardais é inferior ao de uma só cegonha.

4. O pensamento do homem e a corrente do rio podem mudar de sentido durante uma noite.


(Referidos como provérbios japoneses, por Wenceslau de Moraes, in Cartas, II, 342-345.)

domingo, 31 de março de 2024

Assim amanheceu...



 ... o Domingo Pascal, na região outrabandista.

Aproveitamos para renovar os nossos melhores votos pascais para os Amigos e  Comentadores. E visitas.

Johann Kuhnau (1660-1722)

sábado, 30 de março de 2024

Apontamento 162: Em Louvor de Olaf Scholz, contra a ignorância mais que atrevida, i.e. a completa menoridade de leitores




É costume, na Alemanha, haver manifestações pela PAZ por altura da Páscoa, ainda bem!

Ao mesmo tempo, é o Chanceler que transmite uma mensagem de paz e tranquilidade aos cidadãos, alguns ainda tão habituados a tempos de Guerra.

Desta vez, e como é costume do Chanceler Olaf Scholz, ele fez uma intervenção curta, sucinta, muito objectiva e explícita, para caracterizar o momento histórico e os desafios das democracias na defesa das liberdades. Sublinho, também com orgulho, que me identifico, em pleno e com os tempos que correm, com o registo deste Chanceler HANSEÁTICO !

Verdade seja que a maioria da imprensa, e outras forças menores, não entendem a elevação do seu magistério! Sinais do tempo que também nós por cá já conhecemos.

Ora, tendo acompanhado a intervenção do Chanceler através do semanário DIE ZEIT, jornal que acompanho com eventuais desvios menos objectivos para o DER SPIEGEL, não descendo, obviamente, a patamares inferiores de credibilidade jornalística, não encontrei nenhuma complexidade na mensagem emitida.

Para não haver dúvida sobre a sobriedade da intervenção, pode consultar-se o discurso aqui:

https://www.bundeskanzler.de/bk-de/aktuelles/kanzler-kompakt-ostern-2024-2268040

Depois de ouvir o discurso do chanceler, de uma clarividência sucinta, breve, mas completamente acessível, desci para os “infernos” dos comentários. Eis não quando dou com um infeliz analfabeto, que até se identifica como “bávaro”, dizendo que não percebeu o discurso, qualificando-o de “pouco claro” (?)

Ficou o incómodo, CÍVICO, DEMOCRÁTICO, CULTURAL, que motiva este “poste”.

Com a revolta perante um leitor do DIE ZEIT, que  não percebe uma mensagem simples de Páscoa do Chanceler Olaf Scholz de ca. de 1,5 minutos, mas que se acha no direito de empestar contra os órgãos eleitos pelas regras de democracia em vigor, confesso que cada vez tenho menos paciência e tolerância para a burrice.

Post de HMJ

Mudança de Hora

 

Na madrugada deste Domingo de Páscoa (31/3/2024), os relógios deverão ser adiantados sessenta minutos, da 1h00 para as 2h00, iniciando-se assim o horário oficial de Verão.

Boa Páscoa, para todos os que por aqui passem!

Rimsky-Korsakov (1844-1908)

sexta-feira, 29 de março de 2024

Apontamento 161: Episódio com final feliz

 


Durante vários anos, e por motivos familiares, deslocava-me com frequência de avião, utilizando, entre outros, o aeroporto de Bruxelas, Zaventem.

Um dia, sentada na área de espera para o embarque para Lisboa, saíram os passageiros do avião que acabara de chegar, quase todos apressados, excepto uma figura, de estatura mediana, a circular com vagar a olhar para os presentes, visivelmente interessado em ser reconhecido.

Tentei identificar a criatura com uma pessoa publicamente conhecida, sem sucesso na altura. Posteriormente consegui ligar a imagem ao político Paulo Rangel, também por alguns devaneios que a imprensa divulgou, esquecendo-se, contudo, rapidamente do caso como costuma ser regra na actual comunicação social. Rápida em lançar iscos, pobre em pescar algo que se veja.

No entanto, este episódio, no aeroporto de Bruxelas, teve agora um final feliz. Tanto andou a pessoa a viajar que, daqui em diante, terá o seu emprego assegurado a deslocar-se agora pelo mundo em representação do país. 

Post de HMJ

quinta-feira, 28 de março de 2024

Ideias fixas 85

 
Até às 19h35 de hoje, um hacker mecânico e apalermado, aparentemente oriundo de Singapura, já tinha visitado por 199 vezes o Arpose. Nunca percebi o que é que estas bestas acéfalas cá vem fazer, e o que ganham com isso. Agora imagine-se o que é que a tão falada Inteligência Artificial não fará de melhor, neste particular?!...

Uma fotografia, de vez em quando... (181)



O fotógrafo britânico, nascido na Birmânia, Chris Steele-Perkins (1947) integra a agência Magnum desde 1979, por mérito próprio e qualidade da sua obra.
Estáticos, naturalmente, os seus instantâneos têm quase sempre por subentedido o movimento.






Sendo, no entanto, também um notável retratista de gente comum. 



terça-feira, 26 de março de 2024

Antologia 18



Tenho dúvidas se os livros de Wenceslau de Moraes (1854-1929) serão ainda hoje procurados e lidos. Para quem queira ter uma ideia do Japão antigo, as suas obras serão, no entanto, imprescindíveis. Mas depois dum ressurgimento, merecido, da sua pessoa devido ao diplomata Armando Martins Janeira (1914-1988) e da reimpressão dos seus livros, nos anos 70 do século passado, pela Parceria A. M. Pereira, creio que o escritor terá entrado num certo limbo de apagamento.
Para contrariar um pouco esse esquecimento, vou aqui deixar um pequeno extracto pitoresco repescado duma antologia organizada por A. M. Janeira para a Portugália Editora , em 1971. Segue (pgs. 198/9):




"Eu tenho aqui um galo e três galinhas, de raça anã, vulgar neste país (Japão); quase do tamanho de pombos. Nem eu poderia passar sem ouvir, todas as madrugadas, cantar o galo, em minha casa. Porquê? Difícil de explicar. Um sentimento herdado, presumo. O cantar do galo sugere-me miragens de um mundo de delícias - alacridades campesinas, alegrias de aldeia, vida serena no lar, com esposa e muitos filhos... - Eu devo ter tido algum remoto avô, que nunca viu o Oceano, que nunca sonhou com viagens e em países de exotismo, que viveu feliz na sua aldeia, rodeado de família, entretido na lavoura, escutando o boi de trabalho mugir cerca, os cães de guarda em seus latidos, os galos a cantarem; e dessa orquestra rústica de vida simples, enlevo do velho parente ignorado, ficou-me, talvez, o amor pelo cantar do galo, ao alvorecer."