quinta-feira, 2 de novembro de 2017

Onde me apetecia estar... e estive, realmente


Com os anos, vamos sendo mais frugais. Vamos sendo mais discretos e comedidos, deixando de ter mais olhos do que barriga - como diz o provérbio, aconselhadamente. Inscrevem-se neste aspecto os livros a ler, as coisas por fazer, os países a visitar, os filmes a não perder, os quadros que queremos ainda ver... Mas um dos aspectos secundários, que me levou a Londres, era ver, realmente, na Royal Academy of Arts, a exposição Matisse in the Studio, aberta até 12/11/2017. E vi-a.



Por alturas do início da II Grande Guerra e posterior ocupação nazi de parte da França, houve, pelo menos, dois pintores que se deslocaram para fora de Paris, vindo a usar outra residência. Henri Matisse (1869-1954), que já habitava Nice desde 1917, episodicamente, por uma questão de tranquilidade criativa, provavelmente, e Chaim Soutine (1893-1943), de origem judaica, por questões de segurança física. Ambos tiveram, também, problemas de saúde, graves, por essa altura, no início dos anos 40.



Curiosamente, na sequência da mostra de Matisse, na Royal Academy (Londres), seguia-se uma exposição de Soutine, que eu já não tive oportunidade de visitar, infelizmente. Sendo, como é, um dos meus pintores europeus preferidos.
Soutine, em 1943, na sequência do rebentamento de uma úlcera de estômago, foi transportado, em condições urgentes e adversas, para Paris, onde veio a falecer, pouco depois. Matisse teve mais sorte. Levado  de Nice para Lyon, foi operado, de urgência, a um tumor no duodeno, e apesar de muito fragilizado, sobreviveu. Esteve algum tempo acamado e foi durante esse tempo, na impossibilidade de pintar, que começou a recortar  pedaços de papel colorido, e intensificou o seu período inovador e pioneiro de colagens, que tinha iniciado de forma incipiente, nos anos 30.



A exposição de Matisse, que ocupa algumas salas da Royal Academy, é muito coesa e, sobretudo, intimista na sua sobriedade. E a existência de objectos domésticos cria uma envolvência muito peculiar, de outro tempo, e de interior, que quase nos faz esquecer que estamos numa galeria pública. Reconstitui parte do ambiente do seu estúdio: as obras preferidas do Pintor e de que ele nunca se quis separar, um bela cadeira veneziana que comprou, fascinado, duas cafeteiras antigas, uma das quais oferecida como presente de casamento, colagens, têxteis norte-africanos, alguns objectos de uso pessoal, e um pequeno acervo de esculturas africanas do Mali. Além dos quadros.


Gostei muito de ver a mostra. E, para concluir, devo dizer que valeu a pena, apesar das 13 libras que esportulei pelo ingresso. Que os ingleses são austeros, e só descontam 1 libra para quem é sénior...


8 comentários:

  1. Que bela exposição deve ter visto! Há uns documentários no canal Arte feitos com colagens que são um deleite para a vista, tendo já visto um em que Matisse e Soutine também estavam incluídos (ontem havia um sobre os artistas da revolução russa).
    Bom dia

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    1. Era uma exposição feita com inteligência, conhecimento e sensibilidade, por isso, foi uma oportunidade rara visitá-la.
      Até apetecia ficar por ali..:-)
      Boa tarde!

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  2. Deve ser uma bela exposição, pelo que diz. Gosto muito de Matisse. Boa tarde!

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  3. São momentos como este que nos conta da visita à exposição de Matisse, que terminamos sempre por designar como belas memórias. O seu relato da visita termina por nos transportar, de certa forma, para o interior desta bela exposição.
    Muito boa noite!

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    1. Tentei dar uma ideia e contextualizá-la, minimamente.
      Uma singular exposição que, não sendo a de uma "casa-museu de...", também não era, inteiramente, uma mera exposição de galeria.
      Retribuo, cordialmente!

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  4. Bem gostaria de ver esta exposição, mas eu faço parte do núcleo «com mais olhos que barriga». :-)
    Bom dia!

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    1. Eu vou apetecendo o que posso, dentro da minha circunstância..:-)
      Bom dia!

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