quinta-feira, 31 de maio de 2018

Sinais


Em 1969, Jorge de Sena (1919-1978), vindo dos E. U. A., onde leccionava na Universidade de Wisconsin, rumou à Europa. Dessa viagem, veio a resultar, no final do ano, a publicação, pela Portugália, de um livro de poemas intitulado Peregrinatio ad loca infecta. Na sua passagem por Lisboa, proferiu uma pequena palestra na Sociedade das Belas Artes. A sala onde o colóquio se realizou estava apinhado de curiosos, amigos e admiradores, mas também de alguns agentes da Pide, dissimulados por entre a multidão. Tive o prazer de assistir a esse acontecimento.
Um facto comprova que Jorge de Sena esteve, também, em Évora, a 11 de Fevereiro de 1969, na Biblioteca Pública da cidade. Foi com surpresa e alegria que constatei, ao compulsar uma miscelânea do século XVIII, há dias, que o Escritor também estudara esses documentos. Na folha anexa, constava, entre outras, a assinatura (ver imagem) de Jorge de Sena, que a requisitara por motivos de estudo. Se lhe terá sido útil é que não o posso afirmar...

quarta-feira, 30 de maio de 2018

Ideias fixas 14


Como é natural os blogues abrem pela frescura da manhã. Uma enorme percentagem de postes são lançados nessa parte do dia, pelos colaboradores. Depois, os blogues, maioritariamente, entram em  sonolência ou hibernação quase absoluta, nas horas seguintes. Alguns, raros, comentadores fazem a sua aparição, ao longo do dia. E tudo regressa ao sossego e rotina silenciosa, habituais, com a noite.
Temos, na mesa da cozinha, uma flor lilás singela e campestre, colhida na segunda-feira, e que abre aos primeiros raios de luz da manhã. À hora de jantar costuma cerrar as suas pálpebras, ou pétalas. Parece ir poupando a sua vida breve...

segunda-feira, 28 de maio de 2018

Memória 122


Para um país pequeno, como é Portugal, o desaparecimento de três figuras carismáticas nacionais, no pequeno espaço de pouco mais de uma semana, é uma perda irreparável. Por razões que não vem ao caso, não falei delas, na altura própria. Mas relembro, hoje, as mortes recentes de Rosado Fernandes (1934-2018), António Arnaut (1936-2018) e do pintor Júlio Pomar (1926-2018), todas acontecidas neste mês de Maio. Vidas plenas, exemplares nas suas áreas, deixaram-nos obras significativas das suas passagens pela terra.
Das três personalidades, talvez Rosado Fernandes seja o mais controverso, por aliar uma, por vezes, agressiva emotividade, quase sempre de cariz político e ideológico, a uma sensibilidade e erudição ancoradas num profundo conhecimento da Antiguidade Clássica, em que foi mestre e catedrático jubilado, respeitado pelos seus pares. 
E lembro-o porque me senti próximo, recentemente, da sua memória. Enquanto consultava, na sala de leitura dos Reservados, da Biblioteca Pública de Évora, inúmeros manuscritos do século XVIII, estava rodeado, nas três das quatro paredes que me acolhiam, por estantes ocupadas pelos livros que tinham sido da sua biblioteca pessoal. E que ele doara, generosamente, à B. P. E..

sábado, 26 de maio de 2018

Neruda


Quem tiver lido na juventude, ou em idade ainda propícia a arrebatamentos, não se terá esquecido, por certo, das palavras Puedo escribir los versos más tristes esta noche (que Paco Ibáñez, mais tarde, veio a musicar e cantou), que iniciam o penúltimo poema do livro 20 Poemas de Amor y una canción desesperada, do poeta chileno Pablo Neruda (1904-1973), que foi prémio Nobel da Literatura, em 1971. 
O tempo, o surgimento do sentido crítico e o convívio com outros poetas fará, no entanto, abrandar o entusiasmo emocional que esses versos nos despertaram. A que acresciam, também, as lendas românticas que envolveram o poeta. Como, por exemplo, o de ter sido envenenado pelos esbirros de Pinochet, quando afinal Neruda morreu em resultado de um prosaico cancro da próstata.
Creio que a melhor síntese sobre a obra do poeta foi feita, em 1939, por Juan Ramón Jiménez: Siempre tuvo a Pablo Neruda por un gran poeta, un gran mal poeta, un gran poeta de la desorganización; el poeta dotado que no acaba de comprender ni emplear sus dotes naturales.



Os críticos, e mais uma vez os anos, encarregaram-se de desmontar uma boa parte da obra do Poeta chileno nobelizado, atribuindo-lhe influências notórias de Ruben Darío, C. Sabat Ercasty e do indiano Tagore. Não se livrou até de o acusarem de ter plagiado alguns versos do argentino Jorge Enrique Ramponi, no seu poema Alturas de Macchu Picchu. E o crítico inglês C. M. Bowra chegou a escrever que cerca de metade da poesia de Neruda era "very poor stuff indeed".
O penúltimo TLS (nº 6006), pela pena de Ben Bollig, a propósito da saida de duas traduções inglesas de e sobre o poeta chileno, encarrega-se, no entanto, de pôr alguma água fria na fervura e reavaliar, com certo equilíbrio, a obra de Pablo Neruda.






sexta-feira, 25 de maio de 2018

Balancete sumário


Da antiga Suite Tripla, de amplas janelas, lembro-me que licitei, para Inglaterra, um selo clássico e raro português, aqui há uns bons anos atrás. E fui bem sucedido.
Desta vez ficamos na Suite Velha, grande, mas com pouca luz natural. Almejamos, também por curiosidade, vir a ficar no Quarto dos Frescos, da próxima vez.
Do que mais vi, há que fazer referência aos manuscritos (Xavier de Matos, José Mazza, Pinto Brandão...) e a muitas dezenas de cegonhas, pelo caminho. Que se erguiam como sentinelas, do alto dos ninhos plantados nas torres da REN. Ou voando, com elegância longilínea pelos céus alentejanos. 
Trouxe transcrito um soneto fescenino de Tomás Pinto Brandão (1664-1743), talvez inédito, mas que terei pudor de vir a registar no Arpose que, por norma, evita chocar as almas mais sensíveis. A ver vamos, como diz o cego, na sua inocência esperançosa...

Citações CCCXLI


A mulher é como uma saqueta de chá. Nunca sabemos a sua força até ela começar a ferver.

Nancy Reagan (1921-2016).

segunda-feira, 21 de maio de 2018

Recuperado de um moleskine (31)


Por aqui se começam a convocar D. João II e, sobretudo, D. Manuel I, se não quisermos ir mais longe. E para não falar do campo de teixos (o céltico ibhar ou o eburos, gaulês) que também lhe veio ao nome. Mas nós vamos em busca das sombras de Galharde, de Xavier de Matos, que se acolheu ao mecenato generoso de Cenáculo e lhe dedicou várias poesias laudatórias. E espero ter à mão, autógrafos ou não, versos manuscritos de Sá de Miranda. Que decerto lá chegaram a partir de algum dos filhos de D. João III, originalmente, e que foram passando, através dos séculos, de mão em mão, com veneração e respeito.
Como é que pelo Verão, os nossos reis a escolhiam como cidade da sua vilegiatura?, eis o que me pergunto. Sem resposta lógica e suficiente para a minha curiosidade. Mas a cidade acolhe bem, quem venha, e é sempre muito bonita...



Nota: em imagem, apontamentos parciais e pessoais que levei, numa das primeiras visitas que lá fiz.

domingo, 20 de maio de 2018

Maurane (1960-2018)



A cantora belga Maurane (Claudine Luypaerts) faleceu, recente e prematuramente, a 7 de Maio de 2018. Aqui a lembramos e celebramos.

Adagiário CCLXXXI


A agulha veste os outros e vive nua.

sexta-feira, 18 de maio de 2018

Do que fui lendo por aí... 19


A dois flashes do fim desta galeria de retratos, curtos mas incisivos, venho dar conta da leitura deste livro, de Mário Cláudio (1941), que hoje iniciei e esta noite irei acabar, com certeza. Que, muito bem escrito, tem o ritmo vivo das memórias ilustres que o povoam e me deram um enorme gosto de leitura.
Do ocaso de Ferreira de Castro à bondade de Urbano, passando pelo terror sacro que inspirava Gaspar Simões ou pelo desperdício de talento de um E. Prado Coelho, este álbum de figuras, das mais significativas do século XX português, reconstrói, pela pena percutiva de Mário Cláudio, a silhueta realista de muitas personalidades desaparecidas.
E se algumas pinceladas denotam, decerto, alguma acrimónia sibilina mas elegante (talvez Eugénio, talvez Homem de Melo, talvez Alberto de Serpa, mesmo que à sombra de Régio...), desta galeria de retratos de A Alma Vagueante, o balanço de leitura não deixa de ser extremante favorável e gratificante.

quarta-feira, 16 de maio de 2018

Impromptu (35)

O problema da habitação, em Lisboa, já vem de longe...

terça-feira, 15 de maio de 2018

Música e Poesia LXIX

A desmontagem da fantasia ou o enlevo impossível... de um tango balcânico.

Osmose 93


Um nome funciona, quase sempre, como uma identidade. O apelido cola-se mais à tradição. E se o nome nem sempre nos agrada e possa criar, em relação ao sujeito, alguma distanciação ou incómodo, com o tempo acabamos por vir a aceitá-lo, gradualmente. Percebe-se que alguns artistas adoptem pseudónimos. Por lhes desagradar o nome que os pais lhe puseram ou para criar alguma reserva de intimidade na sua vida pública.
Aderi, razoavelmente, ao meu nome e apelidos, subscrevendo com naturalidade a fonética e simbologia que personificavam. Muito embora o meu penúltimo apelido, mais raro e ambíguo, demorasse mais tempo a ser aceite e usado, no dia a dia. Não me lembro, também, de alguma vez ter usado pseudónimo para responsabilizar alguma obra feita. Colei-me assim à obra e título que os meus progenitores me destinaram.
Honra lhes seja! 

Pinacoteca Pessoal 135


Nascido na Baviera, no seio de uma família de fracos recursos económicos, o futuro pintor Hubert von Herkomer (1849-1914) nunca esqueceu as suas origens nem o meio em que foi criado, muito embora pelo seu talento, viesse a ter uma vida folgada proveniente da sua arte, que era muito apreciada pelas classes dominantes.
Os seus pais, em busca de melhor vida, emigraram para os Estados Unidos e, posteriormente, regressaram à Europa, tendo-se fixado em Southampton (Inglaterra). Das suas memórias, ficaram, em temática coerente, os meios operários e os desfavorecidos retratados em várias obras de que são bons exemplos as telas On Strike (1891) e Hard Times.


Representado por vários quadros na Tate, Herkomer pintou também alguns retratos da rainha Victoria. E Eduardo VII escolheu-o para fixar, em tela, a imperatriz da Índia, no seu leito de morte. Em vez da habitual máscara de cera, que era costume fazer-se na época, do rosto de personagens ilustres falecidas.

Hubert von Herkomer foi também um fotógrafo pioneiro e fez alguns filmes mudos, tendo instalado um estúdio apropriado, para o efeito, na sua casa a que chamava Lululand.


segunda-feira, 14 de maio de 2018

Chinesices, orientalismos, modas


A moda tem, por vezes, origens misteriosas e inexplicáveis que desafiam a imaginação. E concita seguidores gregários que lhe dão vida, normalmente, por ausência de gosto próprio e pessoal.
A casa-museu do escritor francês Pierre Loti (1850-1923), em Rochefort, de interiores barrocos e orientalistas, integrou recentemente o Loto du Patrimoine, uma espécie de lotaria cujos lucros se destinam à recuperação de edifícios e monumentos significativos do passado gaulês. Encerrada em 2012, está ser recuperada da acentuada degradação em que se encontrava.
Julgo que foi na segunda metade do século XIX e inícios do XX que o exotismo das coisas do Oriente começou a ocupar a agenda e a curiosidade dos europeus. As chinoiseries ganharam, então, uma visibilidade inesperada.
De Salammbô (1862), de Flaubert, à ópera Madame Butterfly (1904), de Puccini, passando por Madame Chrysanthème (1887), de Loti, bem como pela decoração de várias casas da alta burguesia e pelos Cafés da moda que também integraram esse gosto marcado e insólito.



Por cá, foram bons exemplos o Café Chinês, inaugurado em 1861 (encerrou em 1936 e foi demolido dois anos depois), na Póvoa de Varzim, e os interiores do Café Oriental, em Guimarães, que, como todas as modas, tiveram apenas o seu tempo breve de glória e fama. Como o próximo casamento régio britânico, pelo menos na Caras, Nova Gente e CMTV, há-de ter capas efémeras de mau gosto kitsch e os prime time, neste caso por poucas semanas, satisfazendo, assim, a ligeira e leviana coscuvilhice dos leves e róseos de espírito.


Sic transit gloria mundi...

domingo, 13 de maio de 2018

Desabafo (34)


Volta Calvário, que estás perdoado!

John Cale (1942)

sábado, 12 de maio de 2018

Variedades e efeméride


Em tempos da minha juventude, as opções eram normalmente simples. O maniqueísmo era predominante. Ou cabelos curtos ou muito longos, Benfica ou Sporting (o Porto ainda não fizera a sua aparição...), ou O Mundo de Aventuras ou O Cavaleiro Andante, semanais. Muito embora houvesse transgressões pequenas: por exemplo, os soixante-huitard, do Maio francês, preferiam os cabelos compridos e rabos de cavalo aos austeros cabelos curtos do maoismo da Revolução Cultural. Excepção feita ao alsaciano Cohn-Bendit, que tinha o seu cabelo mais ou menos composto e com volume. Pressagiando, talvez, o cordato e futuro deputado Verde do P. E., que viemos a conhecer mais tarde.
Muitos anos depois, chegou a terceira via, que havia de dar cabo do socialismo democrático, a multiplicidade do corte dos cabelos, o liberalismo desenfreado que se seguiu à queda do Muro, o exotismo andrógino, o politicamente correcto dos beatos saudosos da religião perdida, a nova ignorância militante. As etnias multiplicaram-se à face da terra e nas consciências, sendo enorme, hoje, a possibilidade de escolhas. Mas uma coisa se repete, juvenil, quando a liberdade parece ser total: continuam a queimar-se carros pelas ruas. Como aqui, há 50 anos atrás, neste Paris varrido pela sublevação estudantil, em 11 de Maio de 1968 ( da foto que encima este poste).

sexta-feira, 11 de maio de 2018

Leituras e ocorrências dispersas acontecidas na manhã - miscelânea


Ainda não é desta que eu faço as pazes com a ficção. Tenho à minha espera umas Crónicas (Em Minúsculas) de Herberto Helder, que vou buscar amanhã. E encomendei, na Livraria Escriba, a Correspondência, de Ilse Losa (Estreitando Laços, da Afrontamento), bem como Memórias Secretas, de Mário Cláudio, editadas pela D. Quixote, cuja primeira edição esgotou rapidamente.



Depois de, sem eu dar por ela, no supermercado, me terem impingido, subrepticiamente, uma carteirinha com 3 decalques infantis por que paguei 9 cêntimos, fico surpreendido, através do cartoon de Luís Afonso, no Público, com um novo lobby que está a imiscuir-se, como quem não quer a coisa, nas Escolas: o das inefáveis nutricionistas. Como se não bastassem os psicólogos...



E parece que os diplomatas lusos, no seu melindre de finas rendas e sensibilidade ociosa de croquete, amuaram com o nosso PR, pelas loas que ele teceu, por comparação, ao nosso salvador da Eurovisão, que usa carrapito e tem aquela voz delicodoce e retorcida de pardalito implume.

Ora, cuidem-se!

Bibliofilia 162


Esta miscelânea, impressa em 1781, na tipografia de Chrispim Sabino dos Santos, é uma antologia de 11 entremezes que, provavelmente, terão tido grande sucesso nos palcos populares de Lisboa. Os galegos, taberneiros, criadas e ciganas, médicos e juízes, são personagens frequentes e quase constantes nestas pequenas paródias que se destinavam ao divertimento dos lisboetas menos exigentes do ponto de vista cultural.



Os títulos, por vezes insólitos (deixo um em imagem), pressagiam, no entanto, os enredos ligeiros de que eram feitas estas representações, que tinham, como único objectivo, o entretenimento popular.  E que correspondiam no séc. XVIII, de algum modo, ao que foi a Revista à portuguesa do século passado. Atente-se no facto de todos estes entremezes serem anónimos, quanto à autoria.
A antologia tem 256 páginas e está em razoável estado de conservação, embora com algumas manchas de humidade. Brochada, custou-me 22 euros. Que achei ser um preço justo e merecido.

quinta-feira, 10 de maio de 2018

Citações CCCXL


Há, por aí, pessoas que falam, falam... até que encontram alguma coisa para dizer.

Sacha Guitry (1885-1957).

quarta-feira, 9 de maio de 2018

Também tu, TLS?


Não há meio de escaparmos. Das agências de viagens ronceiras e clonadas nos objectivos, da publicidade de jornais e revistas estrangeiros, dos hippies serôdios com cães lazarentos e sujos, a pedir esmola por Lisboa, dos turistas-máquinas-fotográficas, dos paquidérmicos paquetes a inundar o Tejo...
Já só cá faltava o TLS, que também perdeu - ao que parece - a tramontana!?...

terça-feira, 8 de maio de 2018

Apontamento 112: Propriedade linguística portuguesa - TRAMPA


[t(r)ampa decorativa]

Cada língua tem, conforme o seu enquadramento histórico, a língua e os dialectos que merece. São palavras “de sabedoria”, ou de forma mais modesta, experiências de um enorme bem, a saber, o bi-lingúismo ou “pluri” quando a capacidade intelectual a tanto eleva uma criatura.

Como bem demonstra a imagem, escolhida com o pressuposto máximo de elegância, a palavra portuguesa para TRAMPA espelha bem a desgraça que nos poderá vir de canos e sarjetas sem estética e muito menos de ética.

Aplicam-se, por aí, uns canos TRAMPA, de péssima qualidade, e parece que os “mestres” do ofício – com pergaminhos históricos das antigas corporações: franceses, ingleses e alemães – deixaram de ter voz de autoridade perante certos “energúmenos” que nem sequer concluíram a respectiva aprendizagem. São uns "desenrascados", porque a ciência não lhes deu para mais, infelizmente.

Senhores Mestres da Europa. Então, vão deixar de se rebaixar perante um pobre aprendiz menor, de fraca cabeça, de gosto duvidoso e visão turva ?

Se esse rapazola fraquinho tivesse ficado na sua aldeola da Floresta Negra, poderia, eventualmente. deitar fogo às aldeias, como alguns pobretanas que por cá circulam sem que ninguém lhes segure o apetite de destruição.

Não dêem mais publicidade a estes pobres de espírito, porque a TRAMPA não merece. E aproveitando um dito  recente dos “pafunços” perante o fogo maior que se prepara: “que S. Pedro nos ajude !”

Post de HMJ

Elegância de perder e de vencer


Tive a sorte de ver, na televisão, a final do Campeonato Mundial de Snooker, entre o escocês John Higgins e o galês Mark Williams, ontem à noite. Que este último venceu por 18-16, sagrando-se campeão mundial, pela terceira vez. Foi um jogo exemplar, em tudo.
Se estavam em disputa, para além da taça, altos prémios em dinheiro, a elegância do jogo e o comportamento dos jogadores e do público faziam esquecer esse aspecto, completamente. A tensa emoção da partida, foi contida e sofrida, com cavalheirismo, por todos.
E no final, o vencido (Higgins) bateu palmas ao vencedor (Williams), indo cumprimentá-lo desportivamente. Coisas destas são impossíveis de ver no futebol, infelizmente.

História e ficção


Ainda não consegui reconciliar-me com a ficção. Tenho andado pelo ensaio, pelos livros de crónicas,  história, poesia. E ando a ganhar balanço para tentar, pela enésima vez, ler o À la recherche..., de Proust, na tradução de Mário Quintana, da Livros do Brasil, em sete volumes. Chegarei lá?
Entretanto, e de empréstimo, vou a meio de Um herói português - Henrique Paiva Couceiro (2006), de Vasco Pulido Valente. O autor, seria escusado dizê-lo, tem uma prosa apetecível. De bom ritmo, frase curta e sugestiva, português escorreito. Pena o livro não ter um glossário sobre termos africanos.
Convém lembrar que VPV colaborou no guião ou argumento de vários filmes portugueses: O Cerco (1970), Aqui d'El Rei (1992) e O Delfim (2002). O que talvez explique a sua tentação de ficcionista.
Daí, possivelmente, um episódio (pg. 14) picaresco, narrado por Pulido Valente, em que Paiva Couceiro terá disparado 5 tiros, no Chiado, contra um tal Luis León de la Torre Faria, só porque esse indivíduo o tivera roçado no ombro e lhe dirigira uma frase injuriosa.
Ao que parece, no entanto, a história real teria sido ligeiramente diferente. O Luís León dera um ligeiro encontrão na irmã, Carolina, de Paiva Couceiro e este, então com 19 anos, dera 2 ou 3 murros no atrevido, e não 5 tiros... Por isto foi julgado em conselho guerra e condenado a 2 anos de prisão.
Que lhe foram comutados e abreviados, pouco depois, por decisão superior.
De qualquer forma, não convém baralhar história com ficção.

segunda-feira, 7 de maio de 2018

domingo, 6 de maio de 2018

Mercearias Finas 130


Miúdos. A princípio, e aqui há 50/60 anos, eram as mioleiras, que conceituados pediatras aconselhavam para as criancinhas, na boa companhia de uma açorda. Dos frangos, que não do campo, na altura, mas de galinheiros domésticos, se faziam saborosos arrozes de miúdos, acompanhantes proverbiais do galináceo assado no forno. Que, muito vezes, aparecia na mesa de Domingo. Como, pela Páscoa, era imprescindível o arroz de fressura, feito das miudezas do cabrito que acompanhavam, naturalmente, o anho sacrificado pelo Domingo de Aleluia.
Língua estufada, rim grelhado, iscas de fígado, eram lugares cativos das ementas de muitos restaurantes portugueses e das casas que cultivavam a tradição. Bem como a dobrada ou as tripas à moda do Porto. Mas, depois, veio a doença das vacas loucas, que varreu dos menus estas saborosas iguarias da nossa gastronomia. E se o fígado de porco ou de vitela voltou, em breve, ao nosso convívio prandial, os rins e as línguas foram esquecidos. No Montijo, ainda se podem encontrar, com facilidade, línguas fumadas de porco; o resto é difícil.
Por oferta amiga, chegou-nos esta semana um bem medido meio quilo de ervilhas temporãs e frescas. E, ao cogitar no conduto, logo me lembrei de uma língua estufada de vitela, que sugeri a HMJ. Encomendámo-la no talho, atempadamente, para o fim-de-semana. Mas a greve dos veterinários fez gorar o meu sonho. O talhante desculpou-se mas prometeu-a, para breve. Assim, a couve-flor, que entretanto já fora comprada, vai acompanhar um bife de alcatra, que apesar de vir a ser bom, é um pobre substituto da língua de vitela estufada, do sonho que eu acalentara...
E as ervilhas recolheram-se ao congelador.

Amadores e profissionais


Recebi, há pouco, uma anedota enviada por um Amigo.
O seu final oscila entre o paradoxo e a sabedoria concisa de uma máxima. Aqui o reproduzo:

Amadores construiram a Arca de Noé, mas foram profissionais que fizeram oTitanic.



sábado, 5 de maio de 2018

Filatelia CXXIV


Creio que nenhum dos antigos países da antiga Cortina de Ferro deixou de celebrar, iconograficamente, Karl Marx (1818-1883) nas suas emissões de selos. A que poderiamos acrescentar a República Popular da China ou Cuba, por aditamento e fé ideológica.
Pela passagem do seu segundo centenário de nascimento, aqui deixo em imagem duas séries alusivas. Da U. R. S. S. e da República Democrática Alemã.

sexta-feira, 4 de maio de 2018

Apontamento 111: O papão do Comunismo nos 200 Anos de Karl Marx




Para aqueles que leram, no passado, os meus textos sobre a Linhagem, certamente que não direi nada de novo.

A infância e a juventude numa aldeia de Colónia, com forte influência do Arcebispo e da sua religião numa Escola Primária chamada confessional, desenvolveram-se numa sempre latente aversão a qualquer credo contrário. Havia os protestantes e, pior ainda, os “vermelhos” ou comunistas que, felizmente, viviam fora do núcleo central da aldeia.

O papão do comunismo teve, no entanto, a sua atracção, i.e., encaminhou-me para tentar saber a diferença entre o “nós” e os “outros”. Mais do qualquer outro benefício permitiu iniciar uma amizade sólida, até hoje, com os protestantes que, afinal, constituem metade da minha herança genética.

Descobri, contudo, que muitos dos estimados católicos aldeãos, que falavam do papão do comunismo, tinham sido colaboradores do Regime Nazi, ora transformados em caciques políticos do partido da Senhora Merkel.

A autonomia do pensamento, que guiou a minha aprendizagem, incluiu leituras dispersas das obras completas de Marx e Engels. Desfez-se, assim, o papão dos vermelhos ao mesmo tempo que a aversão contra uma direita reaccionária – tipo AFD actual – se solidificou.

Tenho pena que a craveira intelectual de Karl Marx, nascido a 5 de Maio de 1818 próximo de Colónia, i.e., em Trier  – ou  "Tréveros" em Português – seja recordada na sua cidade com este boneco horrível.



São sinais do tempo, que não tenho nenhum prazer em conhecer, em que a falta de uma curiosidade intelectual genuína, construtiva e verdadeiramente democrática, vem sendo substituída por este aparato publicitário e de adoutrinação, por parte de uns “embedded journalists”, pretendendo formar a cabeça dos cidadãos com pretensos objectivos éticos que, no entanto, mal escondem a sua pertença a grupos económicos e moralidades disfarçadas.



Tenho pena que o intelectual Karl Marx tenha ficado reduzido, na sua terra natal, a um boneco disforme. Fica-me a tristeza, tal como a menina, na imagem seguinte, perante o fecho da sua biblioteca. São efeito do Capital que, aliás, nunca se deu bem com pessoas esclarecidas e de pensamento autónomo, promovidas, graças a um dos filhos do “papão” do comunismo.


Post de HMJ, com estima para KM

Interlúdio 62

quinta-feira, 3 de maio de 2018

Lisboa embrulhada


Até parece que Christo (1935) andou por aqui...

Valores


Já por aqui o referi, mas vou repeti-lo. As revistas literárias têm, normalmente, vida breve e, algumas, quando completas, são raras e caras, se as quisermos adquirir em alfarrabistas. Nem sempre, porém, têm qualidade literária, porque resultam de encomendas ocasionais a colaboradores fugazes, muitas vezes, em início de carreira, que enviam produções de última hora, guardando, talvez, outras obras, mais aprimoradas, para livros a publicar.
Será o caso desta revista Anteu de que se publicaram apenas 2 números (Fevereiro de 1954 e Maio desse mesmo ano), com contributos diversificados (prosa e poesia) de António Osório, Pedro Tamen, Rogério Fernandes, entre outros.



Por várias vezes e nos escaparates do meu alfarrabista de referência se me tinha deparado este número 2, da Anteu, a preço módico e convidativo. Mas como não sou grande fã da poesia de Edith Sitwell (1887-1964), mesmo que bem traduzida pelo professor universitário J. Monteiro Grilo (que, em poesia própria, usava o pseudónimo de Tomaz Kim), nunca me seduziu ou tentou a sua compra. Até que ontem, à falta de melhor, lá a trouxe para casa, comprada que foi por 6 euros.
Depois, e no aconchego doméstico, resolvi andar por esses andurriais abaixo, na Net, para saber a que preço a vendiam completa (os 2 números). E fiquei estupefacto com os preços com que me deparei. Que, aqui, deixo:

- Livraria Manuel Ferreira (Porto): 100 euros.
- Livraria Alfarrabista (Porto): 125 euros.
- Livraria in-libris (Porto): 185 euros.
- Livraria Frenesi (Lisboa), em 2007: 150 euros.

Comecei a pensar que não é só pelo aumento milionário das rendas que muitas livrarias fecham...

Uma fotografia, de vez em quando... (106)


De Aldo Sessa, fotógrafo argentino bem conceituado, pouco mais apurei, para além do facto de ter nascido em 1939. Mas é notória, na sua obra, a referência continuada aos símbolos e costumes do seu próprio país. Enquadrados numa perpectiva estética de bom gosto original.



No entanto, no seu percurso de incansável viajante, não esqueceu os aspectos da arquitectura, mais genuínos, dos países por onde andou. Permitindo-se também cíclicas derivas para a fotografia abstracta e a natureza morta, que este instantâneo de 1998 ilustra bem.








quarta-feira, 2 de maio de 2018

Passeios por Lisboa 6: Impressões pouco agradáveis




O bom tempo veio renovar o meu plano de conhecer melhor os “cantos à casa”, ou seja, descobrir ou revisitar alguns espaços de Lisboa.

Ontem aproveitei o Dia do Trabalhador para conhecer o novo Campo das Cebolas, de que tinha visto algumas imagens aquando da recente inauguração. Antes de chegar ao novo espaço de lazer, olhei, com alguma atenção, para a Igreja da Conceição Velha, reproduzida acima, porventura o momento mais agradável do passeio.

Na Baixa não se pode transitar e cada vez se compreende menos como uma cidade tão cheia de gente ainda admite uma ocupação selvagem do espaço público, que resta, com toda a qualquer bestialidade de feira: vendas de produtos duvidosos, momos e fazedores de ruídos, já que nada têm de arte, estética ou gosto. Tal como as hordas de trogloditas, vindas de cavernas, que são os únicos a pararem e tirarem as fotos para mostrar aos remediados da sorte que ficaram em casa.

Toda esta impressão monstruosa alcança o seu auge quando se olha, da Igreja da Conceição Velha para o fundo da rua: UM MONSTRO a entrar pela cidade adentro.


Quase não tive vontade de avançar e prolongar o meu passeio. Olhei de soslaio para o renovado Campo das Cebolas, cheio de gente a rebolar-se pela relva. Nem quis ver o novo Terminal dos Cruzeiros, porque a monstruosidade dos paquetes a entrar pela cidade adentro é, no mínimo, obscena. A quantidade de gentinha que vem em cada uma destas “bestas de poluição”, como lhes chama uma amiga minha, ainda contribui mais para o completo congestionamento do trânsito.


Da antiga Estação Sul-Sueste caminhei à beira Rio, não em passeios, mas no meio da rua, porque já não havia espaço para circular. Alcancei, com desconforto, a praça junto ao Cais do Sodré para apanhar o meu autocarro, tentando fugir aos sons, em altos berros, que umas criaturas resolvem emitir livremente, ocupando o espaço público de forma selvagem e limitando-me no meu direito de passear livre e SOSSEGADAMENTE pela cidade. 

Post de HMJ

Da leitura (24)


Há um friínho na manhã que tolhe os pardais nos ninhos e as andorinhas que se aventuram a sair dos beirais aconchegados, mas a chuva pré-anunciada, para hoje, não fez ainda a sua aparição, apesar do céu azul-cinzento carregado.
Ando em itinerário feliz de leituras, depois de três livros de poesia que não me deixaram saudades. Acabado Magris (Instantâneos), sempre compensador, seguiu-se-lhe Manguel (Embalando a Minha Biblioteca) que, apesar de algumas gralhas que não chegam para desfeitear a limpa tradução de Rita Almeida Simões, me deu grande prazer de leitura. Acabei o livro ontem.
Como se diz, por troca de sujeitos, que o pão é guloso, assim diria eu da prosa de Alberto Manguel (1948), amena e afável, corredia e culturalmente informativa. Recém-nomeado director da Biblioteca Nacional da Argentina, o escritor que a si próprio se denomina de "judeu errante", narra em prosa simples, mas elegante, o que foi o desmantelamento da sua biblioteca (mais de 30.000 livros), em França, e o seu envio para lugar incerto (Canadá?). Cada um dos 10 capítulos da obra inspira-lhe uma série efabulada de reflexões culturais de inegável interesse para o leitor.
Retenho, da leitura finda, uma frase estimulante de Alberto Manguel: Os pecados antigos projectam sombras longas (pg. 124).
Recomenda-se a obra a quem gosta de livros.

Nota pessoal: com envoi e estima para a Isabel, no seu "Palavras daqui e dali", que, gentilmente, primeiro me deu notícia da saída deste livro de Alberto Manguel.

terça-feira, 1 de maio de 2018

Citações CCCXXXIX


Uma celebridade é alguém que trabalha arduamente toda a sua vida para se tornar conhecida e, depois, passa a usar óculos escuros para evitar ser reconhecida.

Fred Allen (1894-1956).

Há quarenta e quatro anos...


A memória é um bem terrível, sobretudo se for competente e isenta.
Hoje, na prática, que não em legislação e teoria, não sei se as condições dos jovens trabalhadores serão mais favoráveis do que em 1974.
Nesta mesma data, há 44 anos, em Lisboa encontrar uma loja aberta era como procurar uma agulha num palheiro. Supermercados, mercearias, cafés e restaurantes, tudo estava fechado. E muitos trabalhadores celebravam o seu dia, na rua, alegremente.
Eu e um amigo, ao fim da tarde, esfomeados, procurávamos, em vão, algum sítio, para comer o que quer que fosse, antes de entrarmos no Tivoli, para a sessão da noite. Nada. E mesmo na bilheteira só conseguimos o favor e lugar numa frisa, entre desconhecidos, que também deviam estar com fome. Pela forma como nos olharam a ver abrir - tirando o papel de celofane - duas sandes ressessas e dessaboridas, que tinhamos conseguido comprar no pequeno bar do Teatro. Milagrosamente.
O filme que vimos era "A Golpada" (The Sting), que estreara há menos de uma semana. Com Robert Redford, Paul Newman e Robert Shaw, nos protagonistas.
O título da película parece-me profético, hoje, e apropriado para os tratos de polé que tem levado a legislação laboral nestes últimos anos, em Portugal. Pelo menos, na sua aplicação prática, por parte de muitas empresas. E posso assegurar que, hoje, em Lisboa havia muitas mais lojas abertas do que em 1974...


Adagiário CCLXXX


Fidalguia sem comedoria é como gaita que não assobia.


Nota: citado por Alves Redol, in "Horizonte Cerrado" (1946).